Pular para o conteúdo principal

Marcas pedem benefício emocional

Esta é a opinião do especialista canadense da Ipsos, para quem comunicação está ligada à genética. Para o marketing conseguir construir valor de uma marca é preciso que as empresas estejam atentas ao funcionamento emocional do ser humano.
Ignorar este aspecto é permitir, por exemplo, que a propaganda perca a sua efetividade.

Este é o ponto de vista defendido pelo especialista canadense John Hallward, executivo da Ipsos, empresa de pesquisa, e autor do livro recém-lançado "Gimme - The Human Nature of Successful Marketing".

Hallward esteve no Brasil nesta semana para uma série de palestras. O executivo conta que boa parte do seu livro é resultado de uma observação mais aprofundada dos resultados de pesquisas encomendadas por seus clientes. A obra levou três anos para ser concluída e não deverá ser traduzida para o português. Além do Brasil, também passou pela Argentina, Chile, México, Colômbia e Venezuela para divulgar o seu livro.

Hallward, portanto, detalha na obra esta relação dos hábitos humanos com o mundo do marketing. "O marketing bem-sucedido entende emoções, hábitos, anseios, humores, pensamentos, motivações. Sem isso não há construção de valor de marca", defende o especialista, para quem é preciso sair do pensamento de curto prazo para o de longo prazo.

"Nos lembramos da nossa infância, na escola, por exemplo, porque foi lá que tivemos algumas das maiores emoções", exemplifica o executivo da Ipsos.

Segundo o especialista, muitas marcas estão suscetíveis ao plágio, à concorrência de baixo preço, aos grandes varejistas e à globalização. Enquanto isso, os consumidores estão menos fiéis.

"A solução para os gerentes de marca não está nem no corte dos custos, nem na confiança da atividade promocional", defende Hallward.

Ainda de acordo com o autor de "Gimme", "a competição através de preço e promoções convida à competição de baixo custo e treina os consumidores a procurarem oportunidades para gastar menos. Os fabricantes de baixo custo lucram com margens mais baixas e com desempenho de estoque menos atraente".

A solução, portanto, é construir valor de marca, o que não necessariamente tem de vir da propaganda. "A rede de cafeterias Starbucks Coffee, por exemplo, quase não faz publicidade, mas encanta pelo seu serviço. Criou um alto valor de marca pelo ambiente de suas lojas, pelo cheiro, pelos aspectos emocionais que conseguiu embutir em torno do hábito de tomar café. Não é somente a qualidade do produto em si, mas o serviço também", diz.

Hallward considera ainda o case do iPod (Apple). "O produto não anuncia para uma ou outra idade. Anuncia uma atitude, você ouvindo a sua música preferida, se divertindo. Existem até aparelhos mais baratos e melhores, mas o consumidor quer iPod porque quer pertencer à tribo que pensa que está comprando não só um aparelho, mas uma fonte de lazer", explica o especialista da Ipsos. "É possível conquistar marcas saudáveis por meio de inovação de um modo tangível ou agregando algo intangível. Os elementos emocionais enriquecem as marcas utilizando sentidos dos seres humanos."

A grande diferença deste trabalho pode ser vista, por exemplo, numa campanha de analgésico. Uma marca que diz apenas "sou a melhor, faço isso e aquilo", segundo Hallward, não vai conseguir construir valor e fisgar o emocional do consumidor. Enquanto isso, aquela que diz que com o seu medicamento o consumidor vai voltar a ficar bem, a aproveitar a vida, a remetê-lo a coisas boas, certamente terá mais sucesso, segundo o executivo.

Outras empresas que segundo ele desenvolvem bem esta ligação da genética com a comunicação são Coca-Cola e Nike, entre outras.


Fonte: Por Sandra Azevedo, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç