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Jornalismo, loteamento da Amazônia e monoculturas da mente

Notícia ruim corre depressa e literalmente voa à velocidade da luz no jornalismo on line. Essa é, certamente, uma das constatações mais óbvias da incipiente "teoria do Jornalismo". Empresas e governos, incompetentes ou corruptos, já aprenderam essa lição e se empenham ao máximo para evitar que suas caras apareçam sujas na foto porque sabem que elas estarão estampadas em todo lugar (no You Tube não, bradam eles, cobrindo as algemas com a camisa!)

A notícia ruim da semana passada e que repercutirá bastante nessa que vivemos agora refere-se a inúmeras matérias e opiniões publicadas em veículos "gringueiros" (tradução: dos gringos, especialmente os da terra de Tio Sam) sobre a transnacionalização da Amazônia, um tema ao mesmo tempo repetitivo (você se lembra daquela resposta emblemática do Cristovam Buarque?) e que merece nossa atenção.

Já não é de hoje que autoridades do FMI, do Banco Mundial, de governos estrangeiros (até o Prêmio Nobel Al Gore andou nessa, não é verdade) andam pensando alto por aí, sugerindo que o mundo (o mundo para os americanos começa e termina por lá, o resto é terra a ser conquistada ou invadida!) deva tomar conta das nossas riquezas naturais. Depois de destruir as próprias florestas e das suas colônias ultramar, os países hegemônicos (este adjetivo tem mais peso do que apenas países ricos, não é mesmo?) querem agora, num arroubo ambientalista às avessas, proteger as nossas. Santa generosidade!

Evidentemente, políticos e autoridades brasileiras, que nunca levantaram um dedinho para proteger a nossa biodiversidade (se a Marina Silva contasse tudo o que sabe!), não deveriam se colocar agora como arautos da preservação, nem mesmo o Partido Verde que andou recebendo subsídios de empresas mais do que suspeitas, se consideradas o seu passivo ambiental.

Mas, quando a mídia acende os holofotes, as mariposas , como dizia o saudoso Adoniram Barbosa, ficam rodando "em volta da lâmpada pra se esquentá" e a isso que estamos assistindo nesse momento.

Há uma hipocrisia enorme nisso tudo porque, na prática, o loteamento da Amazônia já começou há muito tempo (você se lembra do famoso Projeto Jari, que mereceu uma série especial do saudoso amigo Jair Borin?) e continua a olhos vistos, com a complacência e a impunidade correndo soltas pelas terras dos caciques da soja e do gado, amigos dos que gostam de madeira e plantam eucalipto (que cinicamente chamam de floresta!). Você nem imagina como o Brasil exporta água utilizada na produção e franguinhos e boizinhos que bicam e pastam (e despejam metano, ai Jesus!) na Amazônia e que servem para engordar homens altos e loiros pelo mundão afora. A mesma água que falta para muita gente por aqui, mesmo para aqueles que moram ao lado de grandes rios (estão privatizando um recurso natural valioso, sabia não?). Você nem pode imaginar o que estão jogando de agrotóxicos nos rios e aguapés da Amazônia e os buracos imensos que algumas mineradoras fazem por lá (é justo termos novas hidrelétricas apenas para satisfazer a ganância de empresas que precisam de eletricidade para sujar o meio ambiente?). Você acha que tudo isso é conversa de ambientalista? Você ainda acha que os indígenas é que são invasores de terras na Amazônia? Você precisa se reciclar, meu amigo.

O jornalismo brasileiro, que vive de espamos (reage conforme a dor de barriga) e não faz direito a lição de casa, não pode novamente entrar nessa armadilha, ouvindo fontes comprometidas (há executivos de multinacionais travestidos de pesquisadores, falando em nome de ONGs suspeitas, financiadas por grandes corporações), repetindo as vantagens ambientais dos transgênicos, o embate fictício entre empresas de biotecnologia e agroquímicas (você pensa que a Monsanto, a Syngenta, a Basf, a Bayer, a Dupont produzem geléia de morango?) e outras conversas moles que fazem o boi perder o sono de vez.

O loteamento da Amazônia já começou há um tempão e há quem garanta que existe um território estrangeiro totalmente cercado no meio daquela floresta imensa, de acesso proibido para quem não fala inglês. A querida irmã Dorothy, que entendia inglês, certamente sabia do que eles estavam falando e fazendo e, por isso, pagou com a própria vida. Não vamos sair correndo por aí acreditando que esta é uma pauta nova porque ela está até caduca de tão batida. A Amazônia está sendo assaltada todos os dias, perdendo milhares de quilômetros por ano para a madeira, o carne, a soja que mandamos para fora. E o Mato Grosso vai afinando como ele só e, do jeito que a toada vai, será mato grosso apenas no nome.

Vamos deixar de preguiça, coleguinhas, e partir para a investigação séria, ouvindo gente da terra, pesquisadores independentes, aqueles que estão sofrendo na pele a expansão das fronteiras agrícolas, estimulada por esse modelo insustentável de desenvolvimento que estamos praticando.

Talvez seja razoável, para sermos honestos, afirmar que a Amazônia não corre perigo apenas pelos inimigos que chegam de fora, mas por todos aqueles brasileiros "muy amigos" que temos por aqui. O loteamento é secular, mas parece que o jornalismo, os políticos e os "oportunoambientalistas" só agora estão vendo a placa que o anuncia. O mundo é mesmo muito injusto: só deveriam ter olhos aqueles que querem enxergar.

Em tempo 1: nosso repúdio aos "hackers" que andam invadindo o site da Ecoagência, tentando evitar que ele denuncie os desmandos das monoculturas da mente nos pampas gaúchos. Que o Ministério Público apure e puna os criminosos cibernéticos e que a opinião pública julgue e condene aqueles que estão loteando os pampas para agradar empresas em ano eleitoral. Que papel sujo andam fazendo por lá, hein?

Em tempo 2: Já começou o recall do Fox ou está difícil consertar a besteira feita?

Em tempo 3: Quem ganha a luta: Minc ou Blairo? Quem será escolhido para ser o juiz? Se for como alguns donos do apito no Brasileirão, o novo ministro que se cuide!

Em tempo 4: Os gaúchos não merecem soja transgênica, eucalipto e fumo tudo de uma vez. É muita monocultura para um Estado só.

Em tempo 5: Vamos acompanhar as doações das empresas para políticos e partidos. Sempre há surpresas desagradáveis quando descobrimos de onde vem e para onde vai o dinheiro. Que, como sabemos, tem cor e cheiro e na mão de alguns deles até fede.


Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br

Comentários

Unknown disse…
acho que isso é uma coisa muito errada pois a Amazônia não deve estar sendo divida,ela é um patrimônio de todos nós brasileiros e queremos que ela seja bem cuida.Se ela for dividida ela vai ser ainda mais destruída.
Unknown disse…
acho que isso é uma coisa muito errada pois a Amazônia não deve estar sendo divida,ela é um patrimônio de todos nós brasileiros e queremos que ela seja bem cuida.Se ela for dividida ela vai ser ainda mais destruída.

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