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Quando a firma paga a conta das despesas pessoais

O casal Pedro e Marina Okubo, sócios de uma empresa que faz bordados em uniformes profissionais e escolares, costumava ir ao supermercado com uma longa lista de compras. No mesmo carrinho iam colocando alimentos para a despensa da casa e material de escritório para a firma, produtos de limpeza para a residência e para a empresa. Na hora de passar no caixa, um único cartão de crédito (o de Pedro) se responsabilizava pelo pagamento. O resultado dessa política? “Quase afundamos”, admite Marina. Os Okubo estavam experimentando um dos maiores inimigos do empreendedorismo à brasileira: a desorganização financeira, capaz de levar a pessoa física ao endividamento e a jurídica, à falência, segundo informou a Agência Sebrae.
No caso dos Okubo, a confusão nas contas ameaçava o patrimônio que o casal de Tamarana (Norte do Paraná) juntou com muito esforço, trabalhando por três anos no Japão. No retorno, resolveram investir no negócio que um irmão de Marina já tocava, em Curitiba. “Não sabíamos nada, fizemos muita coisa errada”, conta Marina. “Todas as despesas saíam da nossa conta pessoal; a da empresa a gente só tinha porque disseram que ajudava na hora de pedir financiamento.” A família tomou conhecimento do problema quando notou que não conseguia calcular quanto a empresa lucrava. Só então, há três anos, buscou assessoria do Sebrae.

Isso é um pouco reflexo da cultura do país. O empreendedor entra com a idéia do negócio, os recursos para colocá-la em prática, comanda diretamente o processo de produção ou prestação do serviço e, no final, está no caixa para receber. Ele não é apenas um empresário, mas encarna a própria empresa. “Só que se ele não se cuidar, chega naquele estágio em que ele está de carro novo e bolso cheio, mas a empresa vai mal. Ele põe tudo a perder”, diz José Ricardo Castelo Campos, gestor de projetos do Sebrae. Se a situação continuar se deteriorando, as conseqüências são as piores possíveis. O empresário não consegue equilibrar as contas e tem de vender seu patrimônio pessoal para estancar a sangria. No final, fica sem patrimônio e sem empresa.

Para dar jeito nas finanças da casa e da firma, os consultores são unânimes em uma orientação: os sócios precisam ter um rendimento fixo – o chamado pro labore, equivalente ao salário do acionista. E separar os carrinhos de compras. “É melhor até para efeitos fiscais, porque aí a empresa tem como comprovar os seus gastos”, diz Eduardo Vilas Boas, sócio das consultorias paulistas Empreende e InvestInova e responsável pelo portal Plano de Negócios. “Separar as contas evita problemas com os impostos.”

Para manter o controle dos gastos, é possível fazer um controle financeiro, mesmo que simples, usando planilhas eletrônicas como o Excel ou o gratuito OpenOffice Calc. “Um controle de fluxo de caixa é fácil de fazer e impede o dinheiro de escorrer pelos dedos”, diz o matemático Antonio Carlos Bellio, sócio da empresa de cursos e treinamentos MatFin. Para ele, esse instrumento permite tomar decisões estratégicas. “Se descubro que vou ter sobras diárias de caixa, posso planejar investimentos. Se tiver déficit, posso negociar com os bancos empréstimos a taxas de juros que me sejam vantajosas”, explica. A dica serve também para pessoas físicas: acompanhar as contas no dia-a-dia é bem melhor do que entrar no cheque especial.

Com o planejamento em dia, a empresa pode fazer reservas para comprar equipamentos, fazer propaganda, crescer. Marina e Pedro souberam tirar proveito disso. Há três anos, a Bodados Okubo tinha dois funcionários e uma máquina de bordar com quatro cabeças (peça onde ficam as agulhas). Hoje são seis funcionários e 22 cabeças de bordar. As finanças da casa também estão em ordem. “A gente percebe agora que poderia estar bem melhor”, observa Marina. “Mas nunca é tarde para começar.”


Fonte: empresas.globo.com/empresasenegocios

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