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Comunicação e Expressão - I

O século XX foi profícuo na produção de teorias acerca da linguagem. De Ferdinand de Saussure a Claude Shanon, o conceito de linguagem transitou desde a fundação do estruturalismo (Saussure) até a composição da Informática Elementar pela associação da Lógica Matemática à codificação binária de dados (Shanon). Descartando qualquer conotação moral, poderíamos dizer que estes são exemplos de propostas “positivas” no que diz respeito à funcionalidade lingüística. A prova dessa funcionalidade é que você está lendo este artigo na tela de um computador que não existiria sem a pioneira Teoria Matemática da Comunicação.

Em um outro extremo da abordagem da linguagem se encontram dois pensadores cujas propostas poderiam ser denominadas “negativas” quanto à sua funcionalidade. Se por um lado o Estruturalismo opera como base epstemológica de produção intelectual e se a Teoria Matemática da Comunicação permite que você esteja lendo em um computador, por outro lado, pensadores como Ludwig Wittgenstein e Gilles Deleuze levantam, de maneiras bem distintas, a seguinte questão: o que é que garante que você está entendendo, por exemplo, o que está sendo dito no presente artigo? Calma... Não se trata de colocar em dúvida suas habilidades intelectuais, mas de dar um primeiro passo na busca de uma elucidação acerca da proposta destes dois pensadores.

Em suas Investigações Filosóficas, Wittgenstein apresenta sua concepção de “jogos de linguagem” onde, por intermédio do “ensino ostensivo” (repetições), se alcançariam significações comuns que tornariam possível a comunicação. A base do aprendizado se dando, segundo este Filósofo, pelos “usos” feitos dos signos lingüísticos dentro de um determinado círculo semântico. Ao considerar a produção de um campo semântico individual que Wittgenstein chama de “linguagem privada” em conjunto com a impossibilidade de transmissão de uma experiência particular, ele põe em questão a real possibilidade de criação do “significado comum” colocando em xeque a eficácia do conceito de comunicação.

Gilles Deleuze, por sua vez, em sua Lógica do Sentido, disserta sobre o circulo da proposição que envolve a relação do signo com o objeto (designação), do signo com o sujeito (manifestação) e do signo como o próprio contexto sintático dentro do qual os “conceitos universais ou gerais” surgem (significação). Nessa relação surge toda sorte de Paradoxos do Sentido entre os quais se destaca o Paradoxo da Proliferação Indefinida. Segundo Deleuze, sendo o Sentido exterior às relações inerentes ao Circulo da Proposição, nunca conseguimos dizer o sentido daquilo que dizemos.

Se eu digo “bola” a alguém e essa pessoa não entende, posso continuar: aquela coisa redonda que se chuta no jogo de futebol. Essa segunda sentença é motivada pela incompetência da linguagem em transmitir o Sentido daquilo que eu queria dizer. As tentativas de fuga a essa limitação só fazem multiplicar e diferenciar os paradoxos segundo a relação considerada. Essa limitação baseada no que Deleuze chama de “impenetrabilidade” do sentido, faz com que, segundo ele, quando tentamos nos comunicar, não fazermos mais do que “falar sobre palavras”.

O “negativo” das propostas desses dois últimos pensadores consiste em evidenciar os problemas insolúveis por uma mera gramática normativa. Cada um a sua maneira deixa claro que o “comum” da composição lingüística, quando reportado à eficácia na transmissão da informação, remetem a uma conclusão desoladora: a comunicação é impossível. A própria Teoria Matemática da Comunicação não conseguiu passar ilesa por esse ponto fazendo com que Claude Shanon privilegiasse a articulação sintática (engenharia do sistema) em detrimento do que ele chamou de “problema da semântica”.

Entretanto, a distinção fundamental entre Wittgenstein e Deleuze é que o primeiro faz do “negativo” de suas investigações o mote de um pessimismo que, segundo seus comentadores, reflete uma postura atribuída a Arthur Schopenhauer de quem Wittgenstein foi um grande admirador; no que diz respeito ao segundo, o princípio básico de sua obra parece, em certos momentos, estar se opondo diretamente ao pessimismo wittgensteiniano.

A Teoria do Sentido deleuziana desloca a evidência do “negativo” que impede a eficácia da comunicação e aporta numa vertente estética da Filosofia iniciada por Nietsche em sua Origem da Tragédia. Esse é o ponto que vincula Filosofia e Publicidade na medida em que o sentido tem como força motora de transmissão da informação um elemento que sequer passa pela necessidade de constituição de um discurso formal: a EXPRESSÃO.

Expressão e Sentido são palavras caras a Deleuze e estão estreitamente vinculadas aos seus estudos sobre a Imagem a qual ele dedicou duas grandes obras: Imagem Movimento e Imagem Tempo. Ratifica-se, assim, a anuência com a afirmação de Michel Maffesoli de que “a publicidade será a mitologia de nossa época” tendo a produção da imagem como propiciadora do que poderíamos chamar de “transfusão semântica”. O vínculo estreito entre imagem e expressão tem, na prática publicitária, um campo fértil para seu desdobramento. Mas essa é uma outra história...


Fonte: Por Moisés Efraym, in www.mundodomarketing.com.br

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