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O que importa, de fato?

"O ponto essencial ou relevante"; "a consideração mais importante"; "a linha final de um relatório financeiro que apresenta o lucro ou prejuízo líquido"; "o resultado final". Tudo isso traduz o termo bottom line, cunhado em 1967, que desde o início dos anos 70 também é usado como adjetivo (no caso, interligado por hífen) para designar "algo ou alguém que se preocupa apenas com custos ou lucros; a pessoa pragmática ou realista".

Estamos, novamente com o precioso Webster's Collegiate em mãos, tratando de deslindar a origem de uma expressão agora amplamente disseminada na linguagem corporativa: a famosa triple bottom line.

Ela foi criada por John Elkington, da consultoria inglesa SustainAbility, para designar — com muita felicidade, diga-se de passagem — os três pilares sobre os quais deve assentar-se o futuro de qualquer organização: viabilidade econômica, responsabilidade social e proteção ambiental. O mesmo conceito que, em edição bem mais amigável, pode ser expresso em inglês pelo trinômio profit, people, planet (lucro, pessoas, planeta).

Se, no novo olhar sobre o ambiente de negócios, a linha final do balanço, azul ou vermelha, está longe de sinalizar a efetiva viabilidade do empreendimento no longo prazo, a questão ganha novos contornos quando se começa a discutir, nos centros de decisão das corporações, sobretudo daquelas instaladas em países emergentes, a necessidade de adicionar-se, ao tripé da sustentabilidade, uma quarta perna, a da governança política.

Em conversas sobre os desafios da nossa atividade nesses nossos tempos de Internet e do politicamente correto, costumo utilizar uma historinha que, quero crer, ilustra bem a complexidade do cenário em que atuam os comunicadores empresariais.

A personagem da nossa ficção é uma senhora inglesa, agora beneficiária do fundo de pensão da fábrica de chocolate onde trabalhou a vida inteira. Com todo o tempo a seu dispor, ela passa as tardes diante do computador, gatinho no colo, bule de chá e biscoitos sobre a mesa, se inteirando do que se passa no mundo. Volta e meia, na rede, se depara com campanhas horripilantes contra empresas, quase sempre situadas abaixo da linha do equador, que depredam os recursos naturais, desrespeitam as comunidades, fazem tudo errado, enfim, para atingir seus objetivos de lucro a qualquer custo.

Imaginem o espanto e a indignação dessa nossa senhora ao ser informada, por um dos grupos de discussão de que participa, de que seu fundo de pensão tem, em seu portfólio de investimentos, ações de uma dessas empresas? Imaginem o empenho com que ela, como legítima parte interessada, tratará de envolver e mobilizar outros participantes em uma pressão coletiva contra o mesmo fundo de pensão?

Em resumo, para muitos administradores de empresas, de pouco adianta fazer bem feito o dever de casa se seus projetos, cuidadosamente estruturados para responder a determinada carência da economia e da comunidade, fracassarem em função de políticas públicas conflitantes com objetivos de longo prazo, ou, o que é mais grave, devido a práticas políticas retrógradas.

As organizações que quiserem de fato abraçar a causa da sustentabilidade, e assim perenizar-se para futuras gerações, terão de ir bem além do dever de casa bem-feito. Cada vez mais, serão instadas a extrapolar seus universos particulares, e ajudar a construir uma governança política que, igualmente, tenha como objetivos um futuro viável para todos.

O que importa, de fato, é que estamos no mesmo barco. Um barco cujo destino, por mais incerto que seja, será igual para todos.



Fonte: Por Luiz Fernando Brandão, in www.aberje.com.br

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