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Em Responsabilidade social, tamanho não é documento

Tamanho, definitivamente, nunca foi documento para empresas que querem ser socialmente responsáveis. Nem obstáculo nem desculpa. Mas no início do movimento de responsabilidade social empresarial (RSE), final dos anos 1990, houve quem defendesse que esta era uma prática apenas para as grandes corporações, sob o discutível argumento de que implicava grandes investimentos --nesses tempos, vale registrar, ainda se confundia RSE com doação de dinheiro para organizações e projetos sociais. E as pequenas e médias empresas se achavam, portanto, em situação de desvantagem na medida em que não dispunham dos mesmos recursos que as grandes para fazer a diferença na melhoria da qualidade de vida de suas comunidades.

Os tempos são outros e bem diferentes. Pouca gente desconhece hoje que a responsabilidade social, mais do que fazer filantropia, consiste em considerar os direitos e expectativas de todos os públicos impactados pelas atividades da empresa. Hoje ninguém tem dúvida de que é um conceito de gestão que afeta às grandes, pequenas e médias corporações. Até porque, a rigor, não é o tamanho das instalações, o faturamento, o número de empregados e a capacidade de investimento que definem o comportamento socialmente responsável. Mas a decisão da empresa de mudar atitudes, valores e princípios, incorporando a ética e a transparência na condução cotidiana de seus negócios. O porte só conta mesmo - se é que conta -- na hora de mensurar a extensão dos impactos das empresas: como as maiores (os ciclos de vida de seus produtos e toda a cadeia produtiva) costumam interferir mais na vida das comunidades, dos clientes, do meio ambiente e do mercado, o bom senso sugere que adotem práticas de responsabilidade social proporcionais à dimensão dos seus impactos.

Para as grandes companhias, rever as etapas da cadeia produtiva à luz de um conceito mais ético de gestão, alterar práticas consagradas em nome de valores sociais e ambientais ou mesmo inserir a RSE na estratégia global do negócio significa, na maioria das vezes, um desafio complexo, sinuoso e demorado. Com estruturas menores e processos enxutos, as pequenas e médias são mais ágeis e flexíveis na mudança. Como possuem menos instâncias de decisão, a vontade do dono basta para que escolham um comportamento socialmente responsável. Em essência, elas nascem mais predispostas para a prática da responsabilidade social porque, inseridas na vida das comunidades, de onde quase sempre se originam e com as quais estabelecem fortes vínculos para operar e prosperar, essas empresas estão muito próximas das partes interessadas e tendem, desde cedo, , a reconhecer o seu papel social, seja por convicção de seus donos seja por pressão do meio.

Nunca é demais lembrar que as pequenas e médias empresas ocupam 45% dos trabalhadores do País e representam, em 80% dos municípios brasileiros, a principal força econômica. Ao mesmo tempo em que coletivamente têm o poder de uma rede geradora de emprego e renda, individualmente são muito suscetíveis às variáveis econômicas e de mercado. A alta taxa de mortalidade precoce é um exemplo dessa fragilidade. Para elas, atuar com responsabilidade social, na acepção ampla do termo, gera mais benefícios do que atuar sem responsabilidade social.

Primeiro, porque os princípios da RSE contribuem, de algum modo, para reduzir o permanente risco de desaparecimento: afinal mudar práticas no sentido de agir com ética, melhorar a gestão do ambiente de trabalho, incentivar a participação dos funcionários, eliminar desperdícios com insumos, aperfeiçoar as relações com fornecedores e clientes, participar ativamente da vida da comunidade e construir uma reputação baseada em respeito só podem fazer bem à saúde dos negócios e á perenidade do empreendimento.

Segundo, porque as pequenas e médias são, regra geral, fornecedoras de produtos e serviços para as grandes empresas. Com o crescente interesse pelo desenvolvimento de parceiros socialmente responsáveis, as corporações de maior porte têm exigido cada vez mais, por meio de políticas específicas, que seus fornecedores assumam o compromissos de responsabilidade social, partilhando de princípios éticos, respeitando os direitos humanos e assegurando, por exemplo, a não contratação de mão de obra infantil ou escrava ao longo da cadeia produtiva.

E terceiro porque a valorização das práticas de responsabilidade, entre grandes empresas e consumidores, tem aberto novas oportunidades de negócios sustentáveis, como, por exemplo, para o desenvolvimento de produtos ambientalmente corretos e serviços de ecoeficiência. Mais ágeis, as pequenas e médias apresentam-se mais preparadas para reinventar os seus negócios, oferecendo a este novo mercado uma expertise ou uma solução técnica.

Para quem dirige uma pequena e média empresa, fica a recomendação de sete passos elementares -e o que é melhor, viáveis -- para implantar a responsabilidade social na gestão de seus negócios:

1) Crie uma missão inspiradora baseada em princípios éticos claros e comunique-a aos seus públicos de interesse; 2) Invista em um ambiente de trabalho saudável, melhorando as relações, incentivando o desenvolvimento profissional e valorizando a diversidade de sexo, etnia, idade, orientação sexual; 3) Reduza os impactos de suas atividades no meio ambiente, evitando o desperdício de recursos, reciclando materiais e reduzindo o consumo de insumos como água, energia e papel; 4) Faça com que os seus fornecedores compartilhem de todas as suas práticas de responsabilidade social, desenvolvendo com eles um ciclo virtuoso de respeito aos outros e ao Planeta; 5) Trate seus clientes com respeito, oferecendo-lhes produtos e serviços seguros e confiáveis, evitando técnicas de venda mentirosas e educando-os para um consumo consciente; 6) Participe vivamente da solução dos problemas de sua comunidade. 7) E integre todo e qualquer esforço para o desenvolvimento de sua região e de seu País.


Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br

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