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Empresas incentivam funcionário a ser voluntário

Pesquisa inédita da ONG Riovoluntário, em parceria com o Grupo de Estudos, Fundações e Empresas (Gife) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) identificou o perfil do voluntariado corporativo no Brasil. O estudo mostra como os programas são conduzidos, elencando metas, modelos de ação, motivação, públicos atingidos, estratégias, funcionários e avaliação. Segundo o levantamento "Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil", 51% das empresas entrevistadas consideram seus programas bem-sucedidos, revelando um entusiasmo que explica porque essa atividade tem crescido entre as corporações brasileiras.

"No mercado de hoje, é uma necessidade que empresas preocupadas com o desenvolvimento da comunidade invistam na evolução do capital social", afirma Roberta Altino, responsável pelo setor de voluntariado empresarial do Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP). Segundo ela, quando uma organização oferece projetos voltados aos jovens, por exemplo - caso de 79% dos programas focados na pesquisa -, está pensando em seus futuros funcionários. Além disso, o voluntariado gera colaboradores mais comprometidos com os valores da empresa e com seu trabalho. "A melhoria da imagem é perceptível não apenas pelo retorno financeiro, mas porque o público externo começa a ter a preocupação de valorizar empresas socialmente responsáveis, preferindo comprar e indicar seus produtos e serviços. Nisso está incluído o voluntariado", diz Roberta.

Diretor de comunicação e relações institucionais da Vivo, Marcelo Alonso concorda com a dirigente do CVSP. "Sem dúvida, programas de voluntariado geram um aumento em termos de reputação corporativa. Uma coisa é a empresa ser percebida pela imagem superficial, uma outra é ser reconhecida como realmente engajada em relação às pessoas com as quais mantém relações", diz. Áurea Alencar, gerente de educação, arte e cultura do Instituto C&A, complementa: "Acredito que toda vez que uma empresa incentiva seu funcionário a exercer a cidadania, isso agrega valor. Reforça para a sociedade um compromisso corporativo".

Além dos valores refletidos na imagem da empresa perante os acionistas, o voluntariado corporativo tem se revelado estratégico, em especial no que se refere às relações com a comunidade do entorno. A pesquisa retrata que 65% das instituições participantes têm como objetivo fortalecer esses laços comunitários.

Para Roberta, um indicador de sucesso de um programa de voluntariado corporativo é a integração de necessidades e expectativas dos públicos externo e interno, isto é, o quanto consegue impactar a comunidade, por um lado, e, por outro, obter grande adesão dos funcionários. "A iniciativa produz um ganho, por exemplo, para as competências e habilidades dos colaboradores, que começam a buscar mais conhecimento sobre o assunto fora da empresa, e isso reflete na sua atividade profissional. Também melhora a criatividade e o trabalho em equipe", ressalta. Os voluntários, segundo Áurea, do Instituto C&A, representam um elo importante entre a empresa e a comunidade. Também por causa disso, as atividades desenvolvem o espírito de liderança e o protagonismo social.


Cuidados necessários
Implantar um programa de voluntariado corporativo requer alguns cuidados. Roberta explica que a organização deve analisar atentamente o clima organizacional do momento, levando em conta, entre outros fatores, a coerência entre discurso e prática, o projeto mais adequado, o quão oportuna é a hora para fazer investimento de pessoal e financeiro, se há uma política de gestão de pessoas adequada para o desenvolvimento da iniciativa, se existe estabilidade na instituição e, principalmente, se há convergência de interesses entre a empresa, a comunidade e o funcionário.

A partir dessa análise, a implementação segue algumas etapas básicas. "Não existe uma fórmula de programa que garanta seu sucesso. Mas é possível estabelecer diretrizes", afirma Roberta. Depois de assistir ao cumprimento dos requisitos básicos, a organização deve optar por um modelo flexível de construção do programa, de modo que a participação dos funcionários seja constante e legítima. Tal atitude faz com que os empregados se sintam parte das ações. "Quando o programa vem pronto, fechado e determinado pode não ser reconhecido e apropriado pelos colaboradores. Além disso, é preciso dar a opção de participar ou não."

Com o diagnóstico da situação da empresa e das necessidades e disponibilidade da comunidade e dos funcionários, o terceiro passo, segundo Roberta, é "conceber o programa propriamente dito, adequando-o às realidades internas e externas da empresa". A divulgação da iniciativa é também peça fundamental para o sucesso do voluntariado corporativo.

De acordo com o estudo do Riovoluntário, 56% das empresas difundem suas ações apenas internamente, enquanto 94% usam apenas o correio eletrônico como ferramenta de multiplicação. Roberta diz que o uso de banners e a realização de eventos são outras estratégias que podem ser adotadas.

Para Áurea, do Instituto C&A, um programa pode ser considerado bem-sucedido quando "a empresa adere ao programa, incentiva, mobiliza, cria condições para que seu funcionário possa se envolver com ações na comunidade". Incentivar a prática da ação voluntária em horário de trabalho ajuda. Embora 69% das organizações acreditem que ceder esse tempo é o principal motivo para o sucesso das ações voluntárias, apenas 43% de fato dispensam os empregados. A C&A é uma delas. Na opinião de Roberta, a liberação em horário de serviço, porém, não é uma condição imprescindível para o êxito de um programa de voluntariado corporativo. A disponibilidade do funcionário conta muitos pontos.


Experiências de sucesso
No caso da C&A, que começou seu programa em 1991 e hoje tem 3 mil colaboradores envolvidos ativamente, um bom indicador de adesão é o fato de parte dos funcionários ter passado a utilizar também seu tempo livre para participar das ações. Áurea comemora também que mesmo quem já não integra o quadro de empregados da empresa muitas vezes continua a exercer o voluntariado. O foco da C&A é a educação, assim como em 72% das outras empresas. Os voluntários atuam na capacitação de educadores, incentivo à leitura e ações de melhoria da escola pública, por exemplo.

Assim como a Vivo, a C&A realiza pesquisas para avaliar os resultados de seu programa. Também criou um livro para que seus funcionários relatem as atividades realizadas. Para motivar os empregados envolvidos, a rede de lojas de departamento faz encontros dos voluntários, para trocar experiências, divulgar resultados e formá-los para atuar nas comunidades. "É necessário promover esse contato do associado com a realidade social em questão, e criar estratégias para que ele possa desenvolver outros a partir de uma demanda social", afirma Áurea.

A Vivo, por outro lado, adota uma maneira diferente de estimular os voluntários. Os 60 líderes selecionados são o que Alonso classifica como "animadores do restante". Quem se comunica direto com essas pessoas, na orientação e incentivo, são os gestores.

A organização começou seu programa de voluntariado em 2004 e venceu, já no princípio, a dificuldade relatada como a maior entre as organizações: o envolvimento dos funcionários. No caso da empresa de telefonia celular que substituiu a pública Telesp Celular, parte do programa foi aproveitada. Quando a Vivo nasceu, muitos funcionários já tinham a cultura do voluntariado semeada e pressionaram os gestores a aderirem à causa. Daí até o funcionamento do programa - que tem foco no atendimento de jovens deficientes visuais e do qual participam 600 pessoas -, foi um passo.

"A grande questão nesses programas de responsabilidade social é que você pode ter várias iniciativas, mas muitas vezes a empresa define uma causa e consegue mobilizar os funcionários em torno disso. Quando já existe a vontade dos colaboradores, o movimento nasce com identidade, por isso a causa ganha muito em termos de disposição e nível de envolvimento das pessoas", completa Alonso.


Comunidade beneficiada
Para 70% dos entrevistados no estudo sobre voluntariado corporativo, as comunidades são as principais beneficiadas pelo trabalho. Cerca de 15% acham que são os colaboradores e apenas 1% admite que a empresa obtém mais benefícios. Bom exemplo de uma organização que experimenta os resultados positivos tanto entre sua equipe quanto entre as ONG, público-alvo de sua ação de voluntariado, é a Serasa. Desde 1999, a instituição mantém o Serasa Social, por meio do qual 960 funcionários (40% do quadro) levam a organizações da sociedade civil ferramentas e noções de gestão. Segundo Tomás Carmona, gerente de Cidadania Empresarial, os ganhos proporcionados pelo programa são intangíveis.

Por parte dos funcionários, o principal resultado é o destaque como líderes de pessoas que não teriam a mesma oportunidade em seus cargos na empresa. "Nossos voluntários estão organizados em times, coordenados por quem não é necessariamente um líder dentro da empresa. Muitas vezes, o indivíduo que assume esse desafio acaba liderando gestores superiores na hierarquia corporativa", afirma.

O executivo aponta que os funcionários também passam a ter mais orgulho da empresa em que trabalham, aprendem a se adaptar, desenvolver sua criatividade e outras características de liderança e trabalho em equipe. "Por fim, têm a oportunidade de vivenciar realidades diferentes do mundo empresarial e isso traz crescimento profissional. Ao ingressar no universo das organizações não-governamentais, no qual há uma escassez de recursos, é preciso buscar alternativas, explorar potenciais, desenvolver a inteligência e estabelecer parcerias", acrescenta ele.

Em relação às entidades beneficiadas, Carmona afirma que o maior resultado é a independência e a maturidade administrativa. "O maior ganho para as ONG atendidas é a percepção de que não podem depender da boa vontade, doação e benemerência, mas que devem estar preparadas para uma boa gestão", diz. Segundo o executivo, é importante mostrar para as entidades que o trabalho do voluntariado "tem um começo, um meio e um fim" e, portanto, terão de aprender a andar com as próprias pernas.


Fonte: Por Carmen Guerreiro, in Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12

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