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Do clipping à auditoria: como medir o retorno do trabalho de Assessoria de Imprensa

Transcrevo aqui alguns trechos do artigo "Do clipping à auditoria: como medir o retorno do trabalho de Assessoria de Imprensa", escrito pelo professor Wilson da Costa Bueno e publicado no site da Contexto. O artigo analisa o trabalho de clipping normalmente realizado pelas assessorias de imprensa e dá dicas sobre como mensurar os resultados deste serviço. Vale a pena conferir a visão prática do autor:

"O assessor de imprensa tem, dentre outras certezas, uma que é inexorável: tudo quase acaba no "clipping". Impresso ou eletrônico, ele representa a etapa final de um esforço de comunicação, geralmente empreendido pelo assessor, e mediado pelos veículos (jornais, revistas, rádio, TV e, mais recentemente, as publicações on line), tendo em vista divulgar fatos, informações, produtos etc, de interesse de uma empresa ou entidade".

"Concretamente, o "clipping" é o recorte ou gravação de uma unidade informativa (nota em coluna, editorial, notícia, reportagem, artigo de um colaborador etc), que consolida o processo de interação da empresa ou entidade com um determinado veículo de comunicação".

"Embora ele seja a prova cabal deste esforço de informar (ou influenciar) a opinião pública, o "clipping" não exprime, necessariamente, de maneira inequívoca, o trabalho do profissional de assessoria. Simplesmente, porque o "clipping" , raramente, é cópia exata desta intenção, mas uma re-interpretação empreendida pelo veículo, que a este esforço incorpora seus filtros, compromissos e interesses".

"O "clipping", portanto – e esta perspectiva precisa ser absolutamente internalizada pelo assessor de imprensa , mas também pelos seus chefes (ou clientes) – representa aquilo que os veículos fizeram com o seu trabalho, mas não, obviamente, o seu próprio trabalho".

"Incompleto ou não, impreciso ou não, equivocado ou não, o "clipping" é fundamental. Ele é a matéria-prima para o trabalho de auditoria, a ser feito a posteriori, e que, se bem conduzido, poderá sinalizar para oportunidades de divulgação, diagnosticar personalidades e estilos de veículos e editores e, sobretudo, permitir que as empresas ou entidades refinem o seu trabalho de relacionamento com a mídia".

"Muitas organizações, não dispõem, ainda, de formas adequadas para recuperar os produtos decorrentes do seu esforço de comunicação, limitando-se ao acompanhamento de alguns poucos veículos, ainda que, originalmente, tenham endereçado os seus releases (pré-pautas etc) a um conjunto enorme de jornais, revistas ou meios eletrônicos".

"A regra básica na comunicação moderna é medir o retorno de ações ou estratégias para que se possa avaliar, com precisão, a relação custo x benefício. No caso específico da atividade de assessoria de imprensa, isso significa ter em mãos a totalidade do material publicado ou veiculado, de modo a construir, a cada momento, um perfil deste esforço".

"A "clippagem" assume características específicas em função dos veículos. Se eles, por exemplo, forem impressos (jornais, revistas, newsletters etc), há uma série de cuidados a serem tomados para que o "clipping", aqui adequadamente denominado de recorte, seja perfeitamente identificado. Muitas empresas especializadas cometem, ao realizarem esta tarefa, erros primários, como:

a) ignorar as chamadas de capa e caderno ou mesmo os destaques existentes nos sumários ou índices da publicação: por erro de leitura ou por falta de conhecimento, encaminham ao cliente apenas as matérias internas, não as fazendo acompanhar pelas chamadas respectivas. A capa dos jornais, as capas dos cadernos e mesmos os índices têm um peso importante no processo de divulgação. Eles emprestam à notícia (reportagem, editorial, coluna etc) um valor adicional, porque as destacam do conjunto das unidades informativas publicadas naquela edição. As capas dos jornais, dos cadernos e os índices representam, efetivamente, a vitrine da publicação.

b)descontextualizar a notícia publicada: Com muita frequência, as empresas que fazem o trabalho de "clippagem" retiram as notícias (notas, reportagens) sobre uma empresa ou entidade de seu contexto de publicação. Um caso comum é recortar apenas o fragmento (pode ser um "box") em que a organização é mencionada, excluindo o resto da matéria que contextualiza aquele fragmento. Com isso, fica difícil recuperar a intenção do editor (repórter etc) e avaliar em que medida a inserção foi mais ou menos positiva para a organização. Por exemplo, como saber se a matéria, como um todo, assumia um tom positivo ou negativo, ou como identificar os concorrentes que compartilharam conjuntamente a matéria.

c) Identificar, de maneira incompleta ou imprecisa, o "clipping": a identificação adequada do recorte é absolutamente necessária. Muitas vezes, as empresas pecam ao cometerem alguns deslizes sérios na identificação da inserção da empresa ou entidade em um veículo. Um erro comum é a descrição incompleta do veículo. Também é importante a descrição exata do dia, da página e mesmo do caderno em que a matéria está inserida, para que se possa, ao mesmo tempo, recuperar esta inserção e ponderá-la em um trabalho posterior de análise. O assessor de imprensa sabe a diferença entre estar na editoria de economia, de política, de cidades ou de polícia e não dispor desta informação no "clipping" significa perder um dado fundamental de avaliação."

"O ideal sempre (e o assessor deve exigir isso da empresa que faz a "clippagem") é ter a coluna inteira, porque ela é, sempre, um espaço íntegro, que precisa ser recuperado. Afinal de contas, como saber se aquela nota extraída da coluna não estava acima ou abaixo de uma outra nota que a complementava? Alguns colunistas, como Joelmir Betting ou Nassif, por exemplo, costumam ter colunas temáticas (envolvendo, quase sempre, um único tema) e seria uma perda irreparável, para a contextualização de uma nota em particular, desvinculá-la do restante da coluna".

"O assessor de imprensa mais detalhista poderá solicitar, também, à empresa de "clippagem" que indique pelo menos o quadrante da página em que a matéria está inserida (uma página de jornal , por exemplo, pode ser dividida em quatro partes). Todo assessor de imprensa sabe a importância de sua divulgação estar no alto ou no pé da página, dependendo do tom que a tipifica".

"Se estamos lidando com veículos eletrônicos (rádio ou TV), alguns cuidados devem ser também tomados ao se proceder a "clippagem". A identificação da cópia da gravação deve incluir o canal (TV) ou a emissora (rádio), o programa , o dia, a hora do início e do término do programa, porque esses dados serão fundamentais para o processo de avaliação. Saber exatamente o horário da divulgação permitirá à empresa recuperar o seu esforço de divulgação, o que lhe permitirá, inclusive, aprender em que ritmo a imprensa (pelo menos aquele programa em particular) resgata e faz circular as informações".

"A "clippagem" eletrônica é mais complexa porque obriga a um acompanhamento amplo dos principais programas (rádio e TV), exigindo, portanto, das empresas uma estrutura formidável. Tendo em vista a dificuldade (e o custo respectivo) de "clippar" todos os canais, o mais adequado é identificar os principais programas a serem acompanhados e concentrar o seu esforço nesse monitoramento. Com certeza, não dispor de todas as inserções na mídia eletrônica significa uma perda (que pode ser mais ou menos importante), mas, nesse caso, o custo de um acompanhamento extensivo (24 horas, todos os dias, de todos os canais) pode ser proibitivo".

"A identificação precisa do veículo (publicação on line ou site) deve incluir, além de seu título, a editoria ou seção em que a matéria foi inserida, o dia e a hora do acesso. A “clippagem” deve abranger não apenas a matéria em si, mas, quando for o caso, os possíveis links a ela relacionados. Vale aqui a mesma observação feita para os veículos impressos: as notas em colunas devem ser “clippadas” com a coluna integral e os contextos das inserções precisam ser recuperados. Se a menção à empresa ou entidade estiver num link de uma determinada matéria, é óbvio que a origem do link precisa ser resgatada".

"O dia e a hora de acesso são dados fundamentais porque os sites e as publicações on line alteram as notícias num ritmo que pode ser frenético. Na verdade, uma das saídas para este acompanhamento pode ser a escolha antecipada, pelo assessor, dos horários a serem “clippados” ao longo do dia. A "clippagem" das 24 horas de todos os jornais on line e sites de importância pode ser uma tarefa operacionalmente complicada e representar, mesmo sendo possível, um custo difícil de suportar".

"O "clipping" em si, como unidade isolada, não agrega valor ao trabalho de relacionamento com a mídia porque ele só gera conhecimento, quando comparado, enquanto produto, ao processo global que lhe deu origem (a coletiva, o release, a entrevista da fonte, o "kit de imprensa" etc)".

"A auditoria de imagem representa uma análise muito mais elaborada e geralmente se reporta a um determinado período de cobertura da mídia e não, à analise de um fato singular. Comumente, incorpora não apenas a análise do cliente em particular, mas também de seus concorrentes, porque é difícil avaliar a eficácia de um trabalho, sem ter qualquer referência para a comparação".

"Algumas empresas emprestam valor exagerado ao espaço ocupado pela divulgação da empresa, norteando a sua análise meramente sob o ponto de vista quantitativo: quantas matérias foram publicadas e o respectivo volume de cobertura (medido em cm2 ou cm x col). Não se pretende ignorar que a dimensão da divulgação é um dado importante do esforço de assessoria de imprensa: afinal de contas, a tarefa, quase sempre, é divulgar amplamente um fato, processo ou produto sob a responsabilidade de uma empresa ou entidade (a cliente da assessoria)".

"Algumas empresas de análise costumam "precificar" o espaço obtido com a divulgação, multiplicando a centimetragem pela tabela de anúncio dos veículos. Incorrem, desta forma, em dois erros graves: a) depreciam a divulgação jornalística e b) "chutam" o custo da publicação".

"A depreciação da divulgação jornalística ocorre porque o espaço editorial, particularmente em veículo sério ou de prestígio, tem um peso maior do que o espaço publicitário. Com algum recurso, uma empresa pode veicular um anúncio, enaltecendo a administração, comunicando o lançamento de um produto ou divulgação seus bons resultados. Se a publicidade não violar qualquer norma ética ela será publicada: as coisas se resolvem no departamento comercial ou num simples balcão de recepção de anúncios. A obtenção de um espaço editorial exige o comprometimento da redação, que assume que a informação encaminhada pela assessoria de imprensa é relevante para os seus leitores (radiouvintes, telespectadores, internautas) e, portanto, merece publicação".

"Uma das contestações mais frequentes ao trabalho de auditoria de imagem diz respeito à definição sobre a angulação da matéria (editorial, artigo, nota em coluna etc). Do ponto de vista prático, não há, certamente, dificuldade em definir se uma matéria é positiva, negativa ou neutra. Basta o assessor de imprensa verificar se a unidade informativa (nota, notícia, editorial, nota em coluna, artigo etc) contribui para formar a imagem positiva da empresa ou entidade; se ela degrada a imagem ou se, na verdade, a referência não inclui juízo de valor. Mais do que qualquer outro profissional, o assessor de imprensa está capacitado a fazer esta avaliação porque sua reputação, como gestor do processo de relacionamento com a mídia, ele depende, basicamente, da circulação de informações positivas sobre o seu cliente (empresa ou entidade). Esta avaliação não deve levar em conta apenas o fato de que a informação sobre a empresa ou entidade foi publicada, mas como foi veiculada (as informações estavam corretas? o veículo as contextualizou direito? a empresa ou entidade saiu lucrando com a divulgação?)".

"Muitas assessorias, desavisadamente, ou sob pressão do cliente, iniciam um processo de divulgação que, por ocorrer em tempo inoportuno, envolver um assunto que pode ser contextualizado negativamente para a empresa ou entidade, ou endereçar-se a um veículo (ou profissional) inadequado, acabam gerando uma divulgação desfavorável".

"A geração de uma matéria positiva ou negativa não depende apenas da informação em si, mas de uma série de fatores que precisam ser considerados no processo de divulgação. Isso nos remete a considerações que privilegiam o momento do processo que ocorre bem antes de se chegar ao "clipping". Ou que remetem ao que deve acontecer após se ter o "clipping" em mãos".

Algumas assessorias continuam insistindo em utilizar cadastros gerais para encaminhar os seus releases ou pré-pautas para os veículos. O problema é que não faz sentido e, o que é pior, representa um alto risco encaminhar informações para veículos que não se conhece, porque, excetuados alguns casos, pode-se simplesmente entupir redações com material que não está em sintonia com uma linha editorial específica".

"Se o desencontro de interesses se repete com frequência (há assessorias que encaminham releases e estabelecem contatos semanalmente), e se a informação repassada não é relevante, o mais provável é que o jornalista (editor, redator de redação, etc) descarte sem abrir o envelope ou o e-mail oriundo daquela assessoria".

"Antes do "clipping", deve existir um planejamento calcado em bancos de dados inteligentes e no conhecimento profundo da empresa ou entidade, do mercado e da imprensa (vista aqui não de forma genérica, mas como um conjunto de espaços personalizados, comprometidos com interesses e preferências)".

"Depois do "clipping", deve existir um mecanismo que conduza a uma verdadeira auditoria do trabalho de relacionamento com a mídia e que, também, se respalde em um sistema de inteligência empresarial. A assessoria de imprensa moderna não apenas faz acontecer, mas reflete, sistematicamente, sobre a sua prática porque esse processo de avaliação e aprendizagem contínua é, hoje, um diferencial importante".


Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in www.comtexto.com.br

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